segunda-feira, 11 de maio de 2009

O final da (minha) Queima

Eram 6:07.
Estava num grupo de amigos, a música ainda tocava na tenda ao lado, e estava sobriamente a apreciar as figuras de quem levou a última noite ao rubro em termos alcoólicos.
Estava uma espécie de corredor intermitente de gente a passar por nós: os caloiros claramente despreocupados, com aquele ar de quem tem mais para o ano e para o seguinte também; os cartolados a aproveitar as últimas, a desforrarem as bengalas nas chapas das tendas, como querendo que a música não acabasse, que a queima não acabasse, que aquela vida e tudo quanto ela tinha não acabasse.
E entreteve-me, do outro lado do corredor ora mais ora menos apinhado de gente um casal, que estava a 8 metros de mim, sensivelmente. Ela mais alta, bonita, trajada, com a capa a tiracolo; ele mais baixo, mais sujo, mais bêbedo. Ambos de olhos brilhantes, não só do alcoól.
Não era difícil de perceber o que estava a acontecer: num mundo que era só deles, e no qual eu entrei sem pedir licença, no meio de toda aquela gente, ela explicava-lhe que não dava mais.
Lia-se "não quero mais isto" e "para mim acabou", "acabou", nos lábios dela, acompanhado do gesto típico com as mãos, e da surpresa dele, sem saber como reagir, com a mão na cabeça, simplesmente fitando-a com a cara de quem sabe que não pode voltar atrás.
Ainda esteve assim 3 ou 4 segundos depois dela virar costas. Virou-as também, ainda com a mão na cabeça, e a cena perdeu-se naquele instante.
O final da queima deles significou muito mais do que um final de queima das fitas, de festa, de curso, de primeiro ano, de férias, seja do que for. Na verdade, cada acontecimento continua a significar tantas coisas diferentes quantas as pessoas nele envolvidas: mesmo que haja semelhanças para pessoas em circunstâncias idênticas.

Sem comentários: