Quando vemos uma caneta e lhe chamamos caneta, por que razão lhe chamamos caneta?
Porque um dia houve alguém que nos ensinou o que era uma caneta. Fez-nos senti-la, entre os dedos. Ou então encontrámos nós uma, e fomos descobrindo como sabia, sem saber muito bem como lidar com ela no início, mas habituando-nos depois. Demos-lhe uso, soubemos e experimentámos da sua utilidade. Sentimo-nos cada vez melhor com ela. A caneta serviu de ferramenta para crescermos, para criarmos, para aprendermos e para nos relacionarmos com outras pessoas.
Hoje em dia, quando vemos uma caneta, sabemos como lidar com ela, para o que serve e até onde, verdadeiramente, ela nos pode transportar com tudo aquilo que significa. E sempre que vemos uma caneta, sabemos que é uma caneta porque reconhecemos tudo isto nas nossas memórias, automática e inconscientemente.
Muito bem.
Quando vemos amor e lhe chamamos amor, por que razão lhe chamamos amor?
Lembro-me de ser puto, muito puto mesmo, e de ver novelas brasileiras deitado com a mãe ou com a avó no quarto enquanto não adormecia, e lembro-me que me divertia gozar com aqueles dramas do "eu amo você" "eu quero ficar com você a vida inteira, meu amor" e outras frases características dos apaixonados melodramáticos. Mesmo fazendo menção ao exagero da coisa, por que razão eu não reconhecia aquele sentimento - mais do que isso, desdenhava, como criança que era, dos actores - e hoje em dia sou capaz de o reconhecer, mesmo que não sejam trocadas palavras? A resposta é simples.
Porque entretanto houve alguém que me ensinou o que era o amor. Fez-me senti-lo, por toda a parte. Ou então porque bati de frente com ele, completamente por acaso, e fui descobrindo quão bem sabia, sem saber muito bem como lidar com ele no início, mas habituando-me depois. Provei-o, tomei-lhe o gosto, experimentei da sua utilidade. Senti-me cada vez melhor com ele. O amor serviu-me de ferramenta para crescer, para criar, para aprender e para me relacionar com outras pessoas.
Hoje em dia, quando vejo o amor, sei como lidar com ele, para o que serve e até onde, verdadeiramente, ele me pode transportar com tudo aquilo que significa. E sempre que vejo o amor, sei que é o amor porque reconheço tudo isto nas minhas memórias, automática e inconscientemente.
É por isto que é verdade uma coisa simples e poderosa: nós só somos capazes de reconhecer nos outros aquilo que já temos dentro de nós, aquilo que já conhecemos. Não surpreende que as pessoas intrinsecamente positivas vejam boas atitudes em acções que por pessoas intrinsecamente desconfiadas são vistas como dúbias ou mal intencionadas; não admira que pessoas descontraídas por natureza não levantem qualquer tipo de perturbação perante assuntos que incomodariam as pessoas que são naturalmente problemáticas ou neuróticas.
E implica, acima de tudo, que alguém que seja capaz de reconhecer e apreciar o bem e as virtudes em nós as tenha de ter também obrigatoriamente, para nossa felicidade, a de quem sente essa apreciação e esse reconhecimento.
É, de facto, como se nos conhecêssemos de novo, no sentido literal do termo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
"como se nos conhecessemos de novo"
É assim mesmo que deveria ser.
Enviar um comentário