Há tempos que ando a remoer isto. Comigo é sempre assim, remoer remoer e remoer até arranjar alguma estratégia de expiação de problemas, picando e repicando o gelo à espera que ele derreta mais depressa.
Costuma dizer a minha avó que ao bom habituamo-nos nós depressa. Andamos anos a fio a ser as pessoas perfeitas, caros a gregos e troianos, engolimos sapos (e algumas rãs), pensamos - tenho de fazer assim e assado - e fazemos assim e assado. E frito e cozido se preciso for. Um prodígio do comando à distância, um amigo ao seu dispor, a toda a hora, quando quiser, faça uso se faz favor, não precisa de agradecer à saída.
É fácil, demasiado fácil ser amigo de alguém assim.
O difícil é continuar a sê-lo se, por alguma infelicidade, o erro cometido é um pouco mais sério. Ui, então aí cai o carmo, a trindade e demais edifícios. Saltam do lugar de onde nunca saíram para nos agradecer, bramem julgamentos como se fossem acometidos por alguma forma de raiva canina, julgam-nos com a moralidade própria de quem nunca manchou a toalha branca da santa mãezinha e adoptam aquele ar de beata de igreja que não falta a uma missa ou ao ensaio do coro com o senhor prior. E depois ainda nos lançam aqueles olhos de carneiro mal morto que nunca lhes vimos antes. "Nunca esperei isso de ti!"
Nós também nunca esperámos isso deles.
(Catarina)
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