segunda-feira, 31 de maio de 2010

Odeio burras




Devo dizer, quanto às pizzas, o seguinte: quando eu andava na escola primária tínhamos um planisfério. Esse planisfério era rectangular. Em bom abono da verdade, nenhum planisfério devia ser rectangular, pela simples razão de que se pegássemos nas pontas e uníssemos, no intuito de formar uma esfera, obteríamos nada mais que um cilindro. E isto não ajuda em nada a nossa noção do espaço e a nossa capacidade de abstracção.
Mas vistas bem as coisas, uma esfera não é planificável.
E era por isso que existia o Globo Terrestre, que eu amava de paixão.

Destino?

Estive com um rapaz que me disse preto no branco que no dia em que nascemos já temos o dia de morte anunciado.
Eu, hoje, consigo entender o ponto de vista.
Contou-me da vez em que ele e um amigo estavam a apanhar boleia e parou uma pessoa cuja cara não lhe agradou. O amigo apanhou a boleia, ele ficou a pé à espera de outra. O amigo morreu pouco depois num acidente de viação pelo despiste da pessoa com quem ía.
Ou da vez em que um conhecido lhe disse que lhe dava boleia para o país de destino como emigrante, e ele preferiu ir de avião. O conhecido morreu na viagem.
E de outras vezes em que fintou a morte.
Este assunto intriga-me tanto.
Bolas.

domingo, 30 de maio de 2010

Nós somos um


Eu diria mais, somos um num milhão :)

Carlos

sábado, 29 de maio de 2010

Sonho

Há pessoas que têm um sonho e nada fazem para o concretizar.
E há pessoas que têm um sonho e passam a vida à procura dele.

E depois há quem, como eu, tenha ganho e perdido sonhos pelo caminho, sem nunca ter algo que verdadeiramente procurasse, talvez por saber que a felicidade mora nos pequenos momentos e quase nunca nos grandes ou, mais provavelmente, apenas porque não, porque nasceu e cresceu sem sonhos, como muitos outros nascem e crescem sem alguma coisa fundamental.

Perguntam-me muitas vezes qual é o meu sonho e eu... encolho os ombros. Não tenho.

(Pobre daquele que não tem sonhos, porque ele sim jamais poderá alcançá-los)

(Catarina)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Prazeres

Gosto de comer cereais com os dedos e beber o leite de seguida, em vez de misturar as duas coisas numa tigela. Sim, eu sou um estranho ser humano.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Know-how

O que distingue alguém que nos ensina de alguém que nos humilha?
A maneira como nos fala.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Olhos na estrada (os meus)

Olhos na estrada (os meus).
Observam-me (os dela).
Dão-me exactamente aquilo que preciso. Sei que me admiram no sentido literal da palavra, como se nada mais houvesse a admirar, como se a estrada não passasse debaixo de nós com rapidez. São um "confio em ti" porque a conduzo sem que ela saiba bem como ou para onde. Sabe que vai comigo, apenas isso.
Nem ela nem o planeta estão em movimento. Estão sim parados, a guardar o momento no álbum das memórias felizes. E eu, que a vejo também, sem tirar os olhos da estrada, estendo-lhe a mão, impotente de agradecer de melhor maneira.
E sorrimos.

A nossa casa move-se à nossa volta.
A nossa casa somos nós.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Equipa do Ano

A jogar em Portugal:

Peiser (Naval)

João Pereira (Braga e Sporting)
Luisão (Benfica)
David Luiz (Benfica)
Álvaro Pereira (FCPorto)

Javi Garcia (Benfica)
Nuno Assis (Vit. Guimarães)
Pablo Aimar (Benfica)
Varela (FCPorto)

Saviola (Benfica)
Falcão (FCPorto)

Suplentes:

Eduardo (SC Braga), Rubén Amorim (Benfica), Rodriguez (SC Braga), João Moutinho (Sporting CP), Ramires (Benfica), Paulo César (SC Braga), Liedson (Sporting CP)

Treinador: Jorge Jesus ou Augusto Inácio


Na Europa:

Julio César ou Pepe Reina

Maicon ou Dani Alves
Lucio, Vidic, David Luiz, Gérard Piqué (2 destes)
Ashley Cole ou Patrice Evra

Cambiasso ou Fabregas
Ronaldo ou Eto'o
Messi ou David Silva
Gerard, Lampard, ou Kaka (1 deles)

Torres, Aguero, Wayne Rooney, Drogba, Diego Milito, David Villa (2 destes)

Treinadores: José Mourinho ou Guardiola

domingo, 23 de maio de 2010

Casa

Nos teus silêncios, nas tuas palavras, nas tuas lágrimas, nos teus sorrisos: é aí que vivo, todos os dias, a cada momento. Apenas contigo me sinto absolutamente em casa, como se essa palavra, 'casa', não existisse antes de ti.

Carlos, a simplicidade é o segredo dos grandes.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

As notas do monopólio

Nunca gostei de perder. Nem a feijões, nem sequer quando a minha avó me pedia "vá lá, deixa lá o teu irmão ganhar, que ele é pequenino". No monopólio, ia trocando o dinheiro que tinha pelas notas cor-de-rosa de 5 mil escudos, que guardava à socapa debaixo da caixa do jogo. No final, quando o adversário julgava estar prestes a dar-me o golpe de misericórdia - zás! - levantava a caixa e era um fartote de rir, como se tivesse conquistado o mundo de uma assentada com as notitas engomadas de 5 mil.

Apetecia-me muito não saber perder, como dantes. E nas vésperas dos golpes de misericórdia, ter um zás! para lhes fazer frente. Mas não, noto que estou a conformar-me com a realidade que me descontenta. Se esta é a sabedoria que advém do amadurecimento, então ela que vá para o raio que a parta. A mediocridade nunca me serviu, por que há-de servir agora?

- Conformismo? Olhe, por favor, é no guichet do lado, muito obrigada.

(Catarina)

Ter vocação

Apreciar as pessoas a fazer aquilo para que nasceram é algo que me fascina.
Eu gostava de ter nascido para influenciar pessoas. Talvez seja demasiado vago, mas é isso que sinto. Talvez porque tenha de abarcar todos os aspectos de mim para ser válido.
Talvez tenha, talvez não.
Sei que não me preocupa o que os outros pensam, mas a maneira como dirigem os seus pensamentos, o que é totalmente diferente.
E por agora sei para o que não nasci, e isso já é óptimo em si.

P.S.: este texto refere-se a aspectos profissionais.
Noutros contextos sei muito bem para o que - ou para quem - é que nasci :)

domingo, 16 de maio de 2010

Não voltes

'Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz
por muito que o coração diga
não faças o que ele diz
nunca mais voltes à casa onde ardeste de paixão
só encontrarás erva rasa
por entre as lajes do chão'

(Rui Veloso, Carlos Tê)

Não, não deveríamos voltar aos sítios onde fomos felizes. É sempre uma desilusão.
Tenhamos a coragem de deixar as memórias intactas, à mercê do tempo, um tempo que as suaviza e adoça. Não queiramos, pois, que se tornem erva rasa por entre as lajes do chão onde outrora fomos felizes.

À memória das felicidades que julgámos ter. Às felicidades que um dia se tornarão memória.

(Catarina)

É triste

Os cursos têm menos anos, a queima tem mais noites e está muito mais cara. Há menos não-estudantes, há menos estudantes, há mais álcool e mais pó.
E há que trabalhar no dia seguinte.
A queima perdeu a piada.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O meu Benfica

Na ressaca dos festejos do título, devo dizer que entendo por que razão existe tanto ódio pelo Benfica.
Sei, de mim para mim e bem lá no fundo, que o típico adepto do Benfica é uma pessoa odiável. O típico benfiquista tem bigode e bebe tinto a todas as refeições, bem como nos intervalos antes e depois delas. Tal como o adepto do Porto é bairrista ou o do Sporting é elitista, o adepto do Benfica é do povo, em todo o esplendor de alegria nos bons momentos e de vergonha quando os microfones lhe param à frente para que - valia mais que calassem esses animais - os "verdadeiros chefes de família" explanem todas as teorias embriagadas sobre a inteligência do Saviola, a segurança do Javi, o pulmão do Ramires, a elegância do David Luiz, a liderança do Luisão ou os golos do Cardozo.
Devo dizer que, para um adepto do Benfica fora deste lugar comum, isto enerva: faço ideia, portanto, do quanto enervará um adepto doutro clube qualquer, que olha para o clube que mais adeptos tem. Levar com esta gente não é fácil.
Lembro-me, por exemplo, dum Benfica-Marítimo há umas épocas atrás. O Benfica fizera uma primeira parte de merda - literalmente, assim foi - o Beto era o nosso distribuidor de jogo - cruzes! - e na frente jogava uma dupla de pontas de lança de meter medo tal o seu portento técnico, a saber: Makukula (oh meu Deus), e - a cereja em cima do bolo - Azar Karadas, avançado que era tão bom que no clube seguinte jogou a central.
Bem, mas é isto: depois de uma primeira parte em que fomos comidos pelo Marítimo em casa Makukula faz ressaltar a bola no peito uns dois metros, para o remate de fora da área, depois da bola lhe ter chegado sabe Deus como, e atira para um frango do guarda-redes, que dá, injustamente, a vantagem ao clube da casa, com um golo caído do céu.
Os mesmos benfiquistas que haviam passado toda a primeira parte a vaiar o seu clube cantavam nas bancadas "Glorioso SLB" e "ninguém pára o Benfica", quais chefes de família que depois de dizerem mundos e fundos dos filhos os congratulam por terem tido um suficiente na escola.
Como se um suficiente fosse suficiente.
Desde sempre me desmarquei de todos os adeptos ditos "normais": não é que não faça parte do povo, mas o meu amor pelo rigor e disciplina, pelo mérito e pelo esforço sempre me impediu de aplaudir vitórias em que merecíamos menos e desdenhar derrotas em que merecíamos mais. É neste sentido que eu me considero um benfiquista diferente dos outros, que não vê sempre penalties a seu favor, que sabe que o caso do Hulk foi uma vergonha, que sente que não era preciso isso para sermos campeões na mesma, mas que mancha o campeonato indiscutivelmente.
Sou o mesmo benfiquista que acha que o Porto devia ter terminado em segundo porque assim teríamos muito mais hipóteses de fazer boa figura na Champions para o ano. Teríamos, equipas portuguesas.
E como cidadão bem-educado e tolerante não apareço nas festas para as quais não fui convidado, nem chamo gratuitamente nomes às outras pessoas, nomeadamente por serem doutra côr clubística. E mesmo que vivesse perto da Avenida dos Aliados, não apareceria, nem incendiaria cachecóis ou arrearia em pessoas que ali estivessem - justamente - a festejar.
E festejavam porque até os benfiquistas que não são normais sentiam que este ano era diferente: melhor ataque com 78 golos em 30 jogos, melhor defesa - empatado com o Braga - com 20 golos sofridos, 5 pontos de diferença para o 2º classificado, 28 para um rival directo, melhor marcador do campeonato e da Liga Europa, ex-aqueo com Pizarro (Cardozo), melhor assistente da Liga Europa (Di Maria), melhor assistente do campeonato (Di Maria), maior goleada do campeonato (8-1 ao Setúbal), equipa com futebol mais atractivo, equipa que conquistou Campeonato com a melhor percentagem de pontos conquistados dos últimos 15 anos (à frente do Porto de Mourinho) e a Taça da Liga ao maior rival dos últimos anos por 3-0 claríssimos, e que chegou aos quartos da Liga Europa, onde perdeu com um bicampeão europeu da última década, o Liverpool.
Esta época foi uma época especial, de facto. Tão especial que conheço sportinguistas que há 16ª jornada estavam a torcer contra o seu clube de coração a favor duma vitória dum Braga que já na altura se adivinhava a única equipa capaz de lutar pelo título com o Benfica. O anti-benfiquismo é aliás algo que se adivinha primário ao gosto pelas próprias cores: se o adepto normal do Benfica é o burgesso que já enunciei, o adepto normal de outro clube que não o Benfica será - e isto, custe o que custar a admitir, é verdade - pela força das circunstâncias de ser o clube mais apoiado (e nem sempre melhor apoiado) e de maior palmarés histórico em Portugal - um anti-benfiquista (saúdem-se todas as excepções à regra).
É nesta base de diferença para melhor que me afirmo neste texto como benfiquista: sou-o porque o meu coração assim o quis, quis o desígnio do destino. Sou-o apesar de ter esperado 17 anos por ver o meu clube campeão - já que do título de 94 não me lembro, tinha 6 anos - ao ponto de ter ficado 17 dias doente dos festejos, os 6 primeiros dos quais de cama e tomar Brufen de 4 em 4 horas. E não conseguiria ser doutro.
Sou-o com todo o direito que outras pessoas têm de ser da Académica, do FCP, do Sporting, do Braga, do União de Lamas ou do Sporting da Covilhã. E sou-o respeitando as vitórias dos outros: inegável o domínio azul e branco dos últimos 4 anos, mesmo que mais por demérito dos adversários do que por mérito próprio, em minha opinião.
Apoio o meu clube e vibro por ele com o mesmo direito que outras pessoas pelo seu, canto nos golos, festejo nas vitórias e respeito os adversários nas derrotas. E é como benfiquista "anormal" que me vejo fazer confusão quem vibre mais por uma derrota dum clube que odeia do que uma vitória dum clube que adora; quem torça contra o seu clube de coração para evitar que outro clube em específico ganhe; quem me chame de filho da puta quando festeja golos seus.
Quando o nosso clube marca um golo e a nossa vontade é chamar filhos da puta aos maiores rivais, isso quer dizer que apesar de toda a superioridade aparente nos sentimos ameaçados por eles. Por aí se vê com quem de facto estamos preocupados, se connosco ou com os outros.
Ou com algum dos outros em particular.
Com o maior dos outros, em particular.
E o maior dos outros costumava ser o maior porque era aquele que ganhava regularmente, mas agora era apenas a quem os outros, inconscientemente e com atitudes como estas, atribuíam mais importância. E foi por isso que continuou, estes anos todos, a ser o maior.
O Benfica nunca mereceu, ao longo dos últimos 20 anos, toda a importância que lhe foi dada pelos adversários: era um gigante adormecido, liderado por presidentes corruptos e por treinadores medíocres, como Jesualdo Ferreira ou Artur Jorge, Heynckes, Souness ou Fernando Santos, com jogadores desesperantemente maus como Escalona, Okunowo, João Manuel Pinto, Andrade, Calado, Diogo Luís, Ronaldo, Machairidis, Kandaurov, Karadas, Makukula, Manduca, Manu, Mantorras, Marcel, Bynia, Fernando Aguiar, Beto, Zoro ou Balboa, só para falar nos que me lembro de repente.
Mas teve-a.
E a todos aqueles que nos chamaram de filhos da puta, porque não sabem ser de si antes de serem contra os outros, a todos aqueles que me confundem com os típicos benfiquistas e me põem no mesmo saco dos adeptos que não sabem ser de um clube, a todos os adeptos que cantam com orgulho em jantares de curso e outros eventos públicos hinos de ódio ao meu clube em vez de amor ao seu, eu tenho vontade de fazer uso das palavras do melhor jogador de todos os tempos:

"que la chupen e que la sigan chupando".

CAMPEÕES NACIONAIS 09/10
CAMPEÕES EUROPEUS DE FUTSAL

Saibam ser adeptos de futebol. Saibam ser homens.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Prodígios de um comando à distância

Há tempos que ando a remoer isto. Comigo é sempre assim, remoer remoer e remoer até arranjar alguma estratégia de expiação de problemas, picando e repicando o gelo à espera que ele derreta mais depressa.

Costuma dizer a minha avó que ao bom habituamo-nos nós depressa. Andamos anos a fio a ser as pessoas perfeitas, caros a gregos e troianos, engolimos sapos (e algumas rãs), pensamos - tenho de fazer assim e assado - e fazemos assim e assado. E frito e cozido se preciso for. Um prodígio do comando à distância, um amigo ao seu dispor, a toda a hora, quando quiser, faça uso se faz favor, não precisa de agradecer à saída.

É fácil, demasiado fácil ser amigo de alguém assim.

O difícil é continuar a sê-lo se, por alguma infelicidade, o erro cometido é um pouco mais sério. Ui, então aí cai o carmo, a trindade e demais edifícios. Saltam do lugar de onde nunca saíram para nos agradecer, bramem julgamentos como se fossem acometidos por alguma forma de raiva canina, julgam-nos com a moralidade própria de quem nunca manchou a toalha branca da santa mãezinha e adoptam aquele ar de beata de igreja que não falta a uma missa ou ao ensaio do coro com o senhor prior. E depois ainda nos lançam aqueles olhos de carneiro mal morto que nunca lhes vimos antes. "Nunca esperei isso de ti!"

Nós também nunca esperámos isso deles.

(Catarina)

sábado, 1 de maio de 2010