quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Werthers original

Vais passar as mãos pela minha careca e dizer-me que após este tempo todo ainda me amas.
Enquanto os netos brincam no jardim, porque os pais deles coitados estão muito atarefados, partilhamos em silêncio a boa sorte da nossa vida.
Já tudo o que vem para trás nos tem aos dois, indissociáveis.
Entendemos que a nossa vida poderia ter sido um milhão de outras coisas possíveis mas que nenhuma delas seria melhor que esta.
Levaremos os putos para casa, tu contas-lhe de como as coisas eram diferentes antigamente - agora - e eu ensino-lhes os ditados que por essa altura já todos esqueceram.
Hei-de falar-lhes do Rui Costa, do Paulo Sousa e do Ronaldo como me falam agora do Coluna, do Eusébio e do José Águas.
E tu vais explicar-lhes como é que me conheceste, vais dar-lhes lições sem nunca os tratar mal, porque para falar grosso existe o avô.
Vais mimá-los demasiado, e eu vou deixar.
Vais dizer o que todas as mães dizem quando os filhos deixam de ser os filhos e passam a ser os pais: meus filhos criados, meus males dobrados.
Vamos ser dois velhos pintarolas, que façam desporto e sejam elegantes.
Vais ver-me ser feliz.

Anda ;)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

I'm from the moaning kind

Estaciono ao pé da faculdade, numa rua de sentido único que dá para a melhor urbanização de coimbra, onde moram os sôutores, as excelências e os meretíssimos.
Pelos espelhos, sempre.
Imaginam um gajo de óculos escuros, com agilidade de rapaz novo, com olhos de rapaz novo, com jeito de quem sabe da poda, a estacionar o carro com o braço direito atrás do banco do pendura? Naaaaaa!
Pelos espelhos.
Pneus a 10 cm do passeio, carro desligado, carteira, telemóvel, não vem ninguém a passar, abro a porta, a musica alta faz-se ouvir fora do carro, sim que os vidros vão sempre fechados por causa do ar condicionado.
E pego na pasta que vinha do banco de trás, já depois de ter baixado a música, sempre a cantá-la, vou à frente, tiro a chave da ignição, a música pára, fecho a porta, tranco o carro, continuo a cantar a música que acabou e na altura em que não sei mais a letra vejo a velha a olhar para mim, do outro lado da estrada, corcunda, bengala na mão, 80 e tal anos, com um ar indiscutivelmente impotente, de que "no tempo dela não era nada daquilo" misturado com "se fosses meu neto levavas 3 palmadas nas trombas por ouvires musica do inferno nessas alturas, não vês que isso te faz mal aos oibidos e depois acabas moico como eu?"
Parada, depreciativa, julgadora.
Olho-a resignado, como que dizendo
"o que é que queres, eu sei que não sou certo, desculpa lá, mas há alturas na vida em que um gajo se sente pior e depois precisa de descomprimir e era isso que eu estava a fazer!"
A velha ganha no olhar, encho o peito fundo, percebo que ela me disse tudo sem me dizer nada e suspiro e gemo um "aaaaaai" ao mesmo tempo, do género "tenha dó de mim minha senhora" e acabo por caminhar em silêncio pelo passeio sem evitar que viesse o pensamento que se impunha:
"caraças da velha tem razão".

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Quereres



um comentário delicioso:
"até o erro é genial!"

Lamechices boas e assim

Há quem viva isto

Ponham o volume bem alto!













quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Golo aos 8 segundos

Llorente, avançado do Espanhol

Tottenham 5-1 Arsenal

Meia final da taça da Liga em Inglaterra, na primeira mão os gunners tinham conseguido empatar com dificuldade a uma bola em casa.

Foi daqueles jogos que faz toda a gente gostar de futebol.
O Tottenham trocidou: com 4-0 aos 60 minutos, Wenger obrigou-se a pôr a artilharia pesada que lhe restava do banco para evitar sofrer uma derrota ainda mais pesada.

Foi 5-1, podia ter sido 10 ou 11, com poucas faltas, com um estádio cheio, com um ambiente fantástico (cantou-se duas vezes "when the saints go marching in", foi perfeito! E com a cara de mau do treinador do arsenal que é definida por uma palavra muito inglesa - priceless - e que o Mourinho deve ter apreciado bastante ali de Setúbal)
Os Spurs, que não batiam o Arsenal há 9 anos, deram-lhes um banho de bola daqueles de envergonhar qualquer um.

Se puderem vejam o jogo na íntegra



1-0 Jenas 3'
2-0 Bendtner 27’ (própria baliza)
3-0 Keane 48’
4-0 Lennon 60’
4-1 Adebayor 70’
5-1 Malbranque 90’

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Violinos



lembras-me violinos.

...

Quando se ama deixa-se livre
E se voltar é porque é nosso.

Nosso no sentido de "merecedor de nós".

sábado, 19 de janeiro de 2008

94

A esperança média de vida para uma mulher que nasça hoje é de cerca de 78 a 80 anos, nos países desenvolvidos.

A minha bisavó nasceu em 1914
Faz 94 anos amanhã.
Ela os filhos fê-los, pois, depois queria vê-los casados.
Depois queria netos... e depois de os ter já só queria ver os netos casados - só falta um.
Depois passou a dizer que já só gostava de estar cá para ver os bisnetos.

Acho que se percebe o que quer ela agora.

Chiça!

Exames ao Sábado

dói a cabeça, hoje que eu estou cansado é que está um dia em condições, tão em condições que está mesmo bom para lavar os carros toda a tarde.
doem as pálpebras de quem dormiu à pressa.
Mas hoje para compensar vou fazer o que costuma ser impossível imediatamente a seguir a um exame: ver o ManUtd e o Chelsea.

A ver se não me esquece de lavar os carros também.

"Sim, sei bem" por Fernando Pessoa

Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.

Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Bom Dia, Amor

Sobre o lado esquerdo do teu corpo um formigueiro que vem desde o ombro: debaixo do pescoço dela o teu braço, debaixo da perna dela a tua, um pesar de quem não quer acordar daquele quentinho
(e que quentinho)
de corpo e de espírito.
Abres metade de um olho, mas não precisas. Podes cheirar-lhe o cabelo da mesma almofada, mudar o teu braço de sítio de olhos fechados para algures que sabes familiar, porque já a conheces
(e é tua)
abraçá-la para ti, perceber que o dia lá fora desponta mas que tu não queres segui-lo, ouvir os carros a passar e pensares "que brutal!", tomares o peito que é dela
(e é teu)
(que brutal!)
e senti-la respirar, sentires-te mais homem porque ela, que é dela
(e é tua)
também é tua, e porque tu
(que és teu)
também és dela.
Ouvir de vez em quando um trovão ou outro, aperceberes-te de que está a chover
(que brutal!)
e vê-la virar-se
(tanto te chegaste a ela, que é que querias?)
estremunhada, com a cara que vês sempre pela primeira vez mesmo a tenhas visto antes, e com metade de um só olho, também ela de mansinho para ti, como que a dizer
- Bom dia, amor
a dar-te a boca que é dela
(e é tua)
e que beijas com a mesma lentidão com que queres que passe o tempo naquele lugar.
Demoras na cintura dela, elegante por ser dela
(e não tua)
e no entanto tua
(e não dela)
tua!, tanto a agarraste para ti antes de adormecerem.
Sentes-te embalado pelo calor da respiração dela, e já de olhos bem fechados te deixas levar no melhor começo de dia que conseguias alguma vez imaginar.
Adormeceste um menino e acordaste um homem, um homem que és tu
(e que é dela)
numa vida que é dela
(e é tua).

Numa vida que é VOSSA.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Aprender uma pessoa

O mais difícil de aprender numa pessoa é a maneira como ela demonstra o agradecimento e a admiração.
De facto, se há delas que mandam bocas, há as que ficam caladas. Se há as que brincam com as pessoas de quem gostam e sorriem, há as que por vergonha ou porque não há necessidade se escondem, viram a cara para baixo e admiram em silêncio.
Se há quem precise de pôr em palavras tudo o que lhe vai na alma, há a quem baste um gesto sem ser preciso dizer nada.
Se para algumas pessoas estar, conversar, passar tempo é agradecer, para outras isso é "normal": tem de haver qualquer coisa mais que seja "diferente".
E quando para nós a pessoa está distante, quando sentimos que não somos recompensados pelo esforço, que não temos a atenção suficiente, que podíamos e devíamos ser mais mimados, mais valorizados... não estaremos nós a querer à força que as pessoas demonstrem o seu apreço e admiração duma maneira que não é delas, mas sim nossa?
Por outro lado, se cada um agradecer à sua maneira onde param as certezas?
Até que ponto estaremos nós seguros de quem nos gosta se não tivermos nem um bocadinho dos miminhos que gostamos na forma como mais gostamos?
Aprender uma pessoa faz-se sempre então para nós, com ela.
Para que possamos interpretar os seus obrigados ou as suas reclamações, para que possamos agradecer-lhe de maneira a que ela perceba isso.

Adaptarmo-nos é um sinal de apreço e de admiração.

O sexto andar



então mas não devia ser uma música dos Clã?
Não.
É uma musica que faria sentido há algum (muito) tempo atrás, da mesma maneira que outras fazem agora, que a tal musica fez para a tal pessoa do sexto andar que os Clã cantam, e que novas musicas farão e por isso mesmo se tornarão especiais.
É daquelas que uma pessoa ouve e diz
"eu já senti isto" e neste caso "chiça, ainda bem que já não sinto"

Epa...

A sensação de ser surpreendido positivamente é das melhores.
Estava eu à mesa e a minha avó saca dum provérbio que eu nunca tinha ouvido (ou ouvisto, como ela diz) que reza assim:

"mão que não dais...
o que esperais?"

De facto...

Mês Sabático

Em que não me apeteceu pura e simplesmente escrever.
Foi Dezembro.
Planos para 2008?
Deixar de roer as unhas.