terça-feira, 29 de janeiro de 2008

I'm from the moaning kind

Estaciono ao pé da faculdade, numa rua de sentido único que dá para a melhor urbanização de coimbra, onde moram os sôutores, as excelências e os meretíssimos.
Pelos espelhos, sempre.
Imaginam um gajo de óculos escuros, com agilidade de rapaz novo, com olhos de rapaz novo, com jeito de quem sabe da poda, a estacionar o carro com o braço direito atrás do banco do pendura? Naaaaaa!
Pelos espelhos.
Pneus a 10 cm do passeio, carro desligado, carteira, telemóvel, não vem ninguém a passar, abro a porta, a musica alta faz-se ouvir fora do carro, sim que os vidros vão sempre fechados por causa do ar condicionado.
E pego na pasta que vinha do banco de trás, já depois de ter baixado a música, sempre a cantá-la, vou à frente, tiro a chave da ignição, a música pára, fecho a porta, tranco o carro, continuo a cantar a música que acabou e na altura em que não sei mais a letra vejo a velha a olhar para mim, do outro lado da estrada, corcunda, bengala na mão, 80 e tal anos, com um ar indiscutivelmente impotente, de que "no tempo dela não era nada daquilo" misturado com "se fosses meu neto levavas 3 palmadas nas trombas por ouvires musica do inferno nessas alturas, não vês que isso te faz mal aos oibidos e depois acabas moico como eu?"
Parada, depreciativa, julgadora.
Olho-a resignado, como que dizendo
"o que é que queres, eu sei que não sou certo, desculpa lá, mas há alturas na vida em que um gajo se sente pior e depois precisa de descomprimir e era isso que eu estava a fazer!"
A velha ganha no olhar, encho o peito fundo, percebo que ela me disse tudo sem me dizer nada e suspiro e gemo um "aaaaaai" ao mesmo tempo, do género "tenha dó de mim minha senhora" e acabo por caminhar em silêncio pelo passeio sem evitar que viesse o pensamento que se impunha:
"caraças da velha tem razão".

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