quarta-feira, 28 de abril de 2010

A entrega

É uma das sensações mais reconfortantes: saber que quem amamos está bem entregue.
Aos teus amigos,

Capas Negras de Saudade



[Temos o dever absoluto de os estimar.
E afinal, se és a pessoa extraordinária que és, também o deves (e muito) a eles.]

domingo, 25 de abril de 2010

Do cinema

Saímos do cinema, e no corredor que dá acesso ao átrio dos restaurantes do Dolce Vita eu vejo uma senhora, dos seus 50 e poucos anos, a vestir o seu casaco. Atitude prudente de quem acabara de sair da sala quente e não queria constipar-se.
Estava difícil. O braço não entrava na segunda manga, porque o casaco era apertado. Então lá vem ele, o marido, a correr - literalmente a correr - levantar o ombro do casaco à sua senhora, para que ela lá enfiasse o braço sem problemas na maldita manga, mantendo toda a sua pose de avó cheia de pinta, elegantérrima e activa.
E, já agora, visivelmente bem amada.

Da Bíblia

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O Amor nunca falha. Havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado"

por sugestão da Catarina

Retiro espiritual

Agora é tempo de sermos porto de abrigo, ou a redoma onde nos refugiamos, apenas.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Posfácio

Da última vez que te vi estavas sentado. Fragilmente sentado sobre as fiadas abraçadas da cadeira de verga. E estavas estranhamente corado. Uma cor que há muito já não era usual em ti. Porque era falsa (mas eu quis, furiosamente, convencer-me do contrário). Era o laranja do pôr-do-sol reflectido na tua tez baça, arranhada e prematuramente sulcada pelos anos que não chegarias a viver.

Sorriste. Como sempre. E olhaste-me.

Não era um olhar diferente do primeiro.
Era apenas derradeiro.
Um derradeiro olhar.

E eu ao ver-te, sentado e rendido pela luta que não quiseste travar, não quis acreditar que esse olhar derradeiro não fosse afinal o primeiro, mas o derradeiro olhar.

Olhaste-me porque sabias que era a última vez. Mas demoraste-te em mim como se procurasses, em vão, amarrar-te à vida.

Por que é que também eu não demorei o meu olhar em ti para assim te prender à realidade?

E agora é tarde para te rever
Ficou a saudade
E a lembrança desse olhar
Que deixámos morrer.

Deixa-me voltar atrás
Deixa-me prender-te no meu olhar
Para viveres para sempre junto das minhas certezas.

[Desculpa ter sido demasiado cobarde para me despedir]

Um beijo,

Catarina

domingo, 11 de abril de 2010

What has to be done

Li num livro, uma vez, que toda a gente tem duas coisas certas na vida, e apenas essas duas: a morte, no seu final; a e exigência de nela tomar decisões, na sua duração. Benjamin Franklin acrescentaria as estas duas o facto de termos de pagar impostos - aceita-se.
A parte que me interessa é a das decisões: na morte penso quando morrer; quanto aos impostos espero pagar muitos - seria um óptimo sinal. De facto, a tomada de decisão ou a falta dela são uma escolha - decidimos agir e decidimos não agir, mas decidimos sempre, seja de que forma for.
E se há decisões na vida que são fáceis de tomar, também as há que nem tanto. Uma decisão tem sempre um reverso de medalha, um custo de oportunidade. Não há decisão nenhuma na nossa vida que traga apenas aspectos positivos, ou por outra, que não possa ser vista também pelo que se perde em decidir assim, ao invés do que se ganha.
As decisões dependem de muitas coisas perfeitamente lógicas: das consequências que trazem, boas e más, na nossa vida e na vida das outras pessoas; das circunstâncias em que são tomadas, certamente; e do prazo dessas consequências e circunstâncias.
Uma decisão é nada mais nada menos que uma acção ou inacção concertada entre as circunstâncias do presente e as consequências no futuro.
Erradamente, há quem inclua nos factores a considerar aquilo que outras pessoas decidiriam no seu lugar. Isto é dizer que para decidir a pessoa pergunta-se "o que vão as pessoas próximas de mim pensar se eu decidir desta forma?", "O que estão elas à espera que eu faça?" ou "O que fariam elas no meu lugar?". Na minha mais humilde opinião, não há quem tanto conheça as circunstâncias e as consequências de uma decisão como nós próprios. Não existe ninguém que esteja em tão boas condições de decidir sobre nós como nós próprios.
Desta forma, aquilo que os outros pensam sobre a maneira como decidimos é relativo, quando comparado ao nosso bom senso: das pessoas em quem confiamos que sabem o que é melhor para elas, podemos esperar qualquer decisão como sendo uma boa decisão.
E por isso devemos respeitá-la e apoiá-la, principalmente quando todas as outras pessoas, as tais que nem sonham as razões que a justificam, a encaram como ofensiva ou devaneadora: é que muitas vezes a decisão em causa não só era a mais acertada, como era a única possível.

sábado, 10 de abril de 2010

É verdade que não tenho escrito

É-me muito fácil escrever quando sinto que tenho algo a dizer.
Escrevo quando estou contente, também, mas acima de tudo quando algo me tira do sério, me faz confusão, precisa de ser esclarecido, justificado, quando o que somos está em causa e o que sentimos igualmente, assim como quem precisa de ficar livre dos seus próprios fantasmas e em paz com a sua consciência.
A escrita é, para mim, uma conversa comigo mesmo, aquilo a que as pessoas chamam falar com os próprios botões; costuma dizer-se que só se sabe mesmo uma coisa quando se a consegue explicá-la, e costumo ficar agradado com o vosso feedback.
As pessoas mais atentas já perceberam, então, por que razão escasseiam os textos nesta altura, nomeadamente os mais sentimentais/profundos/reflexivos. Porque a pessoa que eu fui nestes últimos meses foi mais feliz, mais em paz consigo própria e mais espelhada nos que a rodeiam do que nunca; nomeadamente, no encontro daquela que pode muito bem vir a ser "a minha senhora", como costumamos dizer.
Tenho gostado de estar a aplicar no estágio aquilo que aprendi na faculdade, e acima de tudo estou a experimentar a realidade empresarial portuguesa na sua faceta nua e crua, o que me faz entender muitas coisas que os professores diziam, e que não entendia na altura.
Até o Benfica tem ganho uns jogos. Outros diriam que tem sido uma época fantástica, mas eu limito-me a discordar: esta é a época que o Benfica devia fazer sempre. Esperei 22 anos para os ver jogar à bola, eles que a partir de agora me compensem - uma época só não chega!
(Um dia vou ser presidente daquilo. Escrevam isso.)
Para além de todas as outras, descobri que não consigo expressar por palavras certas coisas. Cada vez sou mais agradecido, mais rigoroso em quem gosto, e filtrei bem quem quero comigo. Hoje, sou uma pessoa que precisa de escrever pouco.
E é por isso, meus senhores e minha senhoras, que hoje anuncio oficialmente que este blogue, parco em posts nos últimos dias, vai ganhar uma co-autora, que escreverá a par comigo aqui, sempre que queira.
It's one small step for mankind, but a big step for me.