quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O milagre da Natureza

Gosto muito de quando há algo que despoleta o querer abordar de um assunto em mim. De escrever não apenas porque me lembrei mas porque houve algo que me lembrasse.
Estava eu no Sábado à noite num bar, num grupo grande de amigos
- mas vá-se lá saber porquê, costuma acontecer quando mais ninguém vê -
quando, como a sede apertasse, me lembro de ir ao balcão pedir um fino.
Podíamos estar aqui a discutir se um fino de euro e meio pode ser servido em copo de plástico, mas não adiantava nada. Como o balcão era pequeno e eu sou um gentleman
- já agora, em modéstia sou um verdadeiro campeão -
decidi não andar feito boi às marradas às pessoas para tentar ter o dito fino 30 segundos antes do que se tivesse estado sossegado na minha vez.
Decidiu o divino compensar-me com tamanha gentileza. Não fosse o meu nobre acto, não teria assistido ao que se seguiu e que influenciou toda a feitura deste texto.
Ao chegar próximo do balcão, foi impossível não reparar numa rapariga - dos seus quê, 28/30 anos? - que já lá estava encostada, e que esperava também a sua vez. Naquela metade do balcão eu acabava por estar a seguir a ela, e depois de toda a gente. Não tardou que fosse atendida: pediu duas bebidas brancas traçadas com sumo, que o atarefado barman demorou uns segundos a preparar. Neste entretanto entre ter pedido e receber, junta-se-lhe uma amiga mais velha, e estabelece-se uma conversa curta entre elas que eu não entendo, por culpa da música. Percebi, apesar de tudo, que devia ser do género
- "Pediste para mim?"
- "Pedi".
Não enganemos ninguém: eram as duas bastante atraentes. E o bastante é um eufemismo.
Para além do impacto físico, parecia-me (e eu tenho bastante jeito para topar estas coisas) que havia ali uma... uma "aura" interessante com elas (com cada uma por si, e com as duas ao mesmo tempo, salvo seja).
Vai na volta eu devo ter estado de olhar perdido pelo bar a pensar nisto, enquanto de vez em quando as mirava, absorto num misto de "ora aí estão duas amigas interessantes", "as mulheres vão acabar por dominar o mundo" e "nunca mais peço o fino, porra!". A amiga mais velha deve ter achado piada ao conjunto de pensamentos que ela descortinou em mim, principalmente aos dois primeiros. Porque eu sou assim, quando eu faço uma cara toda a gente me lê e quanto mais eu tento disfarçar, pior.
A amiga mais nova, a primeira, estendeu uma nota para pagar as duas bebidas. A mais velha sorri para ela, confiante e matreira, olha de soslaio para mim
- ainda hoje não sei se propositadamente provocante ou apenas por reflexo -
e ambas dão um beijo na boca, só de lábios, e sorriem de orelha a orelha, desta vez ambas, a seguir, para por fim vir o troco
(ainda pensei não pôr o verbo vir aqui, por razões óbvias).
Tive impressão que estava toda a gente distraída e mais ninguém reparou. Pelo menos, não na cena desde o início, como eu.
Devo dizer que nunca foi fantasia minha estar com 2 mulheres ao mesmo tempo. Há demasiados perigos: que elas se zanguem para ver qual tem mais de mim que a outra (embora eu jurasse compensar na próxima); que isto não chegue para as duas e elas se safem sem mim; e pior, que mesmo que isto chegasse para as duas elas se safassem sem mim. Para além disto, quando uma mulher é completa as demais só atrapalham (no que à cama diz respeito), e por último, quem precisa de duas cabecinhas a arranjarem ciúmes e problemas quando se pode aturar só uma?
Posto isto, devo também dizer que as percebo perfeitamente. Apesar duma amiga minha me relembrar que se eu fosse mulher não saberia o que perdia em não o fazer com um homem, eu continuo a achar que mesmo que não fosse homem não deixaria de gostar de mulheres: seria lésbica, sem a menor dúvida. Mais a mais, entendo que a atitude até pudesse existir só para ter o seu quê de provocatório e me testar a reacção.
Portanto, o que me atraiu na cena não foi o beijo em si, mas o que quis confirmar: penso para com os meus botões que o verdadeiro milagre da Natureza é as mulheres, apesar de tudo, precisarem de nós. E mesmo que não precisem de alguns de nós, a maior parte delas ainda estão convencidas que sim (estão a ver a dimensão do milagre?).
É um milagre que elas, tão inteligentes que são, ainda confessem umas às outras tanta coisa que são - o que são elas e o que são as outras, nem sempre nos termos mais respeitadores.
É um milagre que ainda se vejam mulheres sofrer horrores por homens que, para além de serem homens (blargh!), ainda são dos piores (que falta de gosto terrível!).
É um milagre que nós sejamos em geral mais simples e mais leais para com o nosso próprio sexo. Que algumas delas saibam disso e consigam ser connosco no feitio - acabando por ter sempre mais amigos homens que mulheres, para inveja alheia - sem perder a feminilidade.
Mesmo tendo em conta a importância do homem como factor atenuador dos impactos das mulheres no mundo, e como um complemento a elas - para que este mundo não fosse um galinheiro pegado -, é um milagre que um sexo que tem as capacidades potenciais para dominar o outro em quase todos os aspectos não se una, e se incapacite entrando em conflito em si mesmo: fossem sempre todas as mulheres como aquelas duas amigas do bar o foram naquele momento, e todos os homens estariam arruinados.

1 comentário:

Anónimo disse...

Como um pouco em resposta ao post de 10 de Dezembro, nao me parece que o free hit counter esteja a inventar o crescente numero de vistas apenas para te deixar contente porque o blog tem qualidade suficiente para suscitar o interesse em pessoas que como eu costumam passar cá para ver o que ha de novo mas que nem sempre deixam a sua marca. Eu decidi comentar este porque foi de todos os que li (desde o mes de setembro) aquele que mais gostei e me chamou a atenção. Tens realmente muito jeito para escrever e para expressar as tuas opinioes, é um facto :)
Beijo Andreia Roque