sábado, 12 de setembro de 2009

Descobrir o silêncio

Li no último livro de Miguel Sousa Tavares, que tive oportunidade de comentar aqui, que o que temos necessidade de escrever resulta daquilo que não dissemos nalgum dia.
Não obstante eu falar bastante, e fazer-me entender com relativa facilidade - coisa que aliás muito me apraz - tinha, mesmo assim, muitas ideias para pôr no papel, muito de mim por explicar - quem sabe, por explicar a mim próprio.
Sempre pensei que esta necessidade de me exprimir por escrito viesse do facto de eu pensar em muito mais coisas do que aquelas sobre as quais falava: julgava que esta constante meditação - ou devo dizer inquietação? - me fazia sobretudo querer partilhar, através da escrita, as conclusões a que chegava, as lições que aprendia, os valores que preconizava - e preconizo.
Descobri, afinal, que não era o facto de eu pensar naquilo que houvera ficado por dizer que me levava a escrever, mas sim o facto de eu escrever que me levava a pensar no que tinha ficado por dizer. Ou no que eu pensava ter ficado por dizer.
Em outras palavras, a escrita - leia-se, a necessidade de ser compreendido - levou-me ao refúgio onde me sinto à vontade para expressar pensamentos meus, muitas vezes frutos de quem pensa claramente demais.
É estranho, para quem me lê e estiver atento, que este texto seja, na sua essência, um contra-senso com aquilo que diz. Se esta questão não me tivesse inquietado - mais uma vez - ele não existiria. Contudo, desta vez existe a tal noção de que ele não surge porque eu reflicto apenas, ou sequer porque tenho necessidade de ser compreendido, surge sim como reflexo de uma maneira agradável, precisa e acima de tudo confortável que eu tenho de me refugiar nas palavras, muitas vezes sem necessidade.
Estou a trabalhar nas maneiras difíceis de demonstrar o que sinto.
Estou a ter uma recompensa avassaladora.
Sinto que com muitos sorrisos, muitos gestos, muita disponibilidade e um gostar tranquilo que se vê no fundo dos olhos, que se faz compreender com uma força e uma veemência que as palavras nunca trariam, fica muito pouco por escrever, fica muito pouco por dizer.
Na verdade, sinto que fica tudo dito.

1 comentário:

Anónimo disse...

No teu deserto, qdo li o livro vim à net à procura de fotografias da Claudia e de opinioes sobre este livro. A simplicidade da escrita do MST agarra-me desde sempre mas este livro autobiografico será o mais fascinante. Qtas pessoas ja passaram pela nossa vida e esquecemo-las até um dia. Os silêncios que na opiniao do MST são sinal de inteligência em variadissimas situações. O teu post está brilhante. Bela