quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que não convém esquecer

As vezes em que fomos mais felizes;
As vezes em que sentimos mais dor;
O último grande elogio que nos fizeram;
A crítica que ultimamente tenha tocado mais fundo;
A última vez que sentimos que fizemos a coisa certa;
A última vez que sentimos vergonha.

Há uns dias vi um casal de namorados a lanchar. Não eram namorados recentes, não podiam ser.
Eram daqueles casais, que já foi feliz e que já sentiu dor; que teve momentos de elogio mútuo e de críticas construtivas que os levaram ali. Um casal em que cada um deles já tinha tido tempo para fazer coisas certas e erradas, que provocaram orgulho ou vergonha.
Por entre o lanche e as bebidas, ela olhava-o de frente enquanto lhe lia mais do que ele lia no jornal. Não era um olhar embevecido, nem protector. De tanto o sentir - que não seria só daquela vez que ela o olhava assim - ele levantou os olhos do jornal e seguiu os dela, de um para o outro, sorrindo levemente e voltando à notícia que interrompera.
Agradava-lhe que ela não o olhasse com excesso de gosto, de paixão, de ternura. Agradava-lhe retribuir-lhe aquele olhar sábio, de quem sabe que uma pessoa só pode ser apreciada no seu todo e tendo tudo isto presente, e para quem o caminho se fez também de barreiras.
Eram namorados antigos, mas acima de tudo, eram pessoas com boa memória.
Só podiam ser.

1 comentário:

saltos altos disse...

Gostei especialmente deste poste. Gostei mesmo:

A vez em que fui mais feliz: São tantas muitas mais do que as que fui triste.

A vez em que sentimos mais dor:esta possivelmente foi à bem pouco tempo. Mas a dor não nos mata.
O último grande elogio que me fizeram: acho que me disseram que gostavam da forma como eu encarava a vida. E que o meu coração era enorma. fez-me corar!!
A crítica que ultimamente me tenha tocado mais fundo: Perguntaram-me porque razão eu tinha tanto medo de arriscar os sentimentos, podendo eu nunca mais ter uma coisa assim.
A última vez que sentimos que fizemos a coisa certa: Quando disse finalmente a verdade sobre tudo o que pensava sem medo de magoar os outros. A verdade doi mas acalma a maior parte das vezes.
A última vez que sentimos vergonha: Quando me confrontaram com uma pergunta que tem a haver com um recalcamento meu do mais estúpido que possa existir. e me disseram que aquilo era pobreza de espirito. Eu concordei.