quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Os instantes que decidem

O tempo é a coisa mais relativa que existe, quanto a isso não temos dúvidas. Todos temos experiência de anos que se esquecem ou segundos que se vivem para sempre. Mas anos e segundos são fracções do tempo longas demais para o que quero explicar hoje: exactamente essa inexactidão da medida de um palpite, de uma decisão instintiva, de uma reacção abrupta, de antecipação única.
Todos nós sabemos quanto dura: é longo demais para passar despercebido e curto demais para podermos pensar dentro dele - é o tempo de abrir a mão quando nos apercebemos que o copo vai cair, de cerrar os dentes quando sabemos que vem aí um estrondo que não podemos evitar, que congelamos de susto porque pensamos "vou bater!" e depois
PUM
na traseira do meco.
É, em certa medida, o único instante em que o tempo é nosso, precisamente por essa antecipação. No copo que partiu, e que apanhou toda a gente de surpresa, excepto a nós, por exemplo; é a falha de tempo que nos permite antecipar aos demais, onde levamos vantagem.
Lembrei-me disto porque fui ver a Académica ao vivo, no Domingo; e porque o momento dos golos que eu mais gosto é precisamente este... aquele que medeia o remate e a bola dentro da baliza, no qual abrimos muito os olhos, como se estivéssemos a dizer a toda a gente na bancada "vai entrar, caraças!"
sem tempo para dizer o que quer que seja.
É o "já está", o "já foste", o "tomaaaa!!!", vivido na 1ª pessoa, os braços já abertos quando toda a gente ainda salta na bancada, a arrogância de quem viu em plano privilegiado e verdadeiramente em directo, como se já soubesse o resultado.
São momentos onde se comprovam as forças e as impotências, onde se constata quão grandes ou quão pequenos podemos ser. E para o bem ou para o mal, esses são os instantes de tempo onde nos apercebemos de repente que já ninguém pode evitar nada. Vai acontecer.
São os instantes que decidem.

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