domingo, 30 de agosto de 2009

"Não havia necessidade"

Eu nunca cacei, e as armas sempre me assustaram.
Ou talvez nunca cacei porque as armas sempre me assustaram.
Estive a pensar nisto depois de ver um pai que matou, por acidente, um filho, durante a caça e depois de me ter lembrado dum episódio de BBC Vida Selvagem - daqueles que davam na Sic antes do jornal aos fins-de-semana -, ao qual estava a assistir com o meu avô. Estávamos a ver um veado - ou, pelo menos, era o que me parecia - quando o meu avô, caçador desde antes de o conhecer, referia o prazer que lhe daria caçar "um bicho daqueles", demonstrando clara admiração por ele.
Claro que não tardei a responder-lhe que se toda a gente pensasse assim aquele documentário já se teria tornado impossível de realizar. Mas fez-me pensar nos propósitos da caça.
Há muitíssimo tempo atrás, quando não havia agricultura sequer, a caça era o sustento dos homens. Havia necessidade de caçar. Desde aí aos nossos dias passou-se por tudo, até que hoje há já criação de gado até em excesso - pelo menos ao que julgo saber nos países desenvolvidos.
Ou seja, hoje em dia caça-se para quê? Para estar em contacto com a natureza? Para fazer exercício físico? Por admiração para com o animal e o prazer de se sentir superior a ele? Tudo isto me parece repleto de machismo e de prepotência de um Homem que conseguiu por métodos e técnicas cada vez mais evoluídas livrar-se dos perigos e das perdas da caça e continua, por vontade própria e muitas vezes por recreio e diversão a arriscar a sua vida. E as vidas dos seus entes queridos, consequentemente.
Não creio que os caçadores devam perguntar-se "como será que ele baixou tanto a arma", ou "como será que o filho estava à frente", ou algo do género. As perguntas certas, quanto a mim, serão estas:
"Por que razão decidiram ir caçar?"
"Será que essas razões compensam os riscos que se correm sempre que se caça?"
E caso a caça seja por razões que os caçadores achem legítimas - ainda que ilegais - e para as quais não há outra solução aparente, como defender culturas de animais selvagens, por exemplo, coisa que eu compreendo perfeitamente, as perguntas deveriam girar em volta desta:
"Vale a pena arrastar para a caça mais do que o mínimo de pessoas necessárias ao acto?"

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