domingo, 7 de fevereiro de 2010

Meu amor

Meu amor,

Perdi o jeito para te fazer cartas, sabes?
Antigamente, quando te encontrava no mais fundo de mim, tinha muito que te dizer, e quando me faltava ia buscar numa prosa ou num verso qualquer as palavras adequadas. Nunca faltou quem escrevesse de ti, mesmo que não para ti em particular, que és só meu, mas para esse amor que era sempre de quem o escrevia.
Mesmo nas épocas em que nos desencontrámos, tu existias. O meu amor era apenas a ideia de ti, essa ideia que outros tinham já concretizado em alguém, e que eu já tentara concretizar também, sem sucesso. Nesses tempos, estavas em toda a parte, meu amor. Nunca, por respeito a ti, chamei meu amor a quem não fosse essa representação do que tu és e tão bem sabes ser, de tão único.
Por não te ver concretizado, por não te ter ainda senão dentro de mim, e nunca de mão dada comigo, ao meu lado, para que toda a gente nos visse, e pudesse aproveitar as prosas ou os versos que fizessemos, não te escrevia. Pelo menos não a ti.
Escrevi várias vezes sobre ti, de facto. Fiz votos para que viesses, fosse como fosse, transformar toda a minha teoria em prática, toda a minha tempestade em bonança, todo o meu desejo em posse. Exaltei-te para não me esquecer de como eras, guardei as cartas antigas que te tinha mandado, mesmo aquelas cujas palavras agora nada significavam para quem as houvera lido.
Importava o que era escrito muito mais do que o destinatário. Porque afinal, esse amor é sempre de quem o escreve, muito mais do que de quem o lê.
É engraçado como, por isso, ao longo do tempo te vou escrevendo menos, e melhor. E de como vou escolhendo melhor a maneira como te concretizo, a tal ponto que a partir de certa altura deixo de escrever em teu nome e começo a dar-te o nome da pessoa em que te projecto.
Hoje é o dia em que espero escrever-te pela última vez. Tal como todos os outros dias em que decidi dar o teu nome à pessoa a quem eu escolhi dar a mão e que ficou ao meu lado, para que toda a gente nos visse. Vou passar a escrever-lhe a ela, vou passar a fazer cartas com o nome dela por todo o lado, por entre prosas ou versos meus ou de alguém.
Hoje é o dia em que o teu nome volta a ser um nome de mulher. E essa mulher sabe o seu nome, mas acima de tudo sabe que como quer que eu lhe chame, estou a chamar-te a ti.
Obrigado, meu amor, por seres nela.

Até sempre.

5 comentários:

Paulito Brother disse...

não liguem, ja passava das cinco da manhã e estivemos a beber vinho todo o santo dia x) dá-lhe pa estas merdas, de vez em quando... eheheh

C. disse...

quem me dera escrever assim, mas só escrever assim, porque sentir... sentir sinto o mesmo. apenas não sei transmiti-lo da mesma forma que tu. não é costume, a eloquência também é uma qualidade minha. Mas tu levaste-ma. A ela e ao meu coração.

S* disse...

Muito doce e bonito... parabéns.

saltos altos disse...

Partis-te-me o coração!!
Não ames demais ok...ama quanto te amarem. Dá à medida que recebes!!!Sinto saudades tuas no meu blog. Prometo escrever mais. Escreve tu mais que me encantas:)

Anónimo disse...

ta tao lindo