quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Fica o esclarecimento, Rita

Como não deixaste e-mail e eu quero isto bem esclarecido, cá vai: em relação à tua frase de que "iludidos andamos todos quando pensamos que as pessoas mudam" eu dou-te razão: normalmente quando sentimos isso, sentimos que elas não mudam em algo que era fundamental que mudassem, sentimos que por muito que batalhemos nunca alteraremos determinadas características que nos faz mais tarde ou mais cedo transtorno - de facto, e tal como eu disse em "Are you sure?", há singularidades em cada pessoa que nunca mudam por mais que queiramos, mesmo que a nossa relação com elas fique diferente - quem é que um dia me vai impedir de escrever, por exemplo?
Só que uma coisa é mudar, e outra é evoluir, e em "Are you sure?" eu falei mais de evolução e não de mudança: eu escrever escrevo sempre, ou seja, esse facto não muda, e sei que vou continuar a escrever apenas e só porque sempre escrevi - mais uma vez, no máximo aquilo que sabemos para sempre é aquilo que soubemos desde sempre. Porém, eu posso ao longo dos anos, por uma questão de evolução, de contacto com outras formas de expressão e outros autores, diferenciar ou adaptar a maneira como escrevo de forma a que eu a ache mais sensata, mais esclarecedora, mais artística, mais pessoal, etc, etc...
O que eu quero dizer é que numa pessoa acontece geralmente que não muda muito do que ela é, mas talvez mais a maneira como o demonstra, por isso disse antes que quando alguém já nos deu razões de queixa e mesmo assim continuamos a dar-lhe confiança, quando o fazemos várias vezes ainda por cima, temos o direito de nos sentirmos mal por vermos que as nossas expectativas saíram goradas mas nunca, nunca de dizer que não estávamos à espera.
Da mesma forma que as pessoas em si evoluem, evoluem as relações entre elas e a maneira como elas se lidam reciprocamente - e eu acredito mesmo que quando duas pessoas se entendem naturalmente (ou instintivamente) não há nada que as impeça de se manterem assim a não ser uma vontade - e basta que seja a vontade de uma delas - contrária a essa.
As circunstâncias mudam, o ambiente muda, as pessoas adaptam-se e nesse sentido evoluem... mas o que elas são, na sua essência, nos seus instintos, nas suas reacções, na maneira como reagem nos dois décimos de segundo seguintes a um acontecimento, mesmo que depois tomem uma acção que tente demonstrar o contrário, elas são-no, para o bem e para o mal - fatalmente, eu teria sempre, fosse de que maneira fosse, de te esclarecer, porque nem sequer ía adormecer depressa caso contrário - mas a maneira como o faço é influenciada por um sem fim de coisas.
Portanto temos ambos razão: esperamos que mudem no que há que nos transtorna, e normalmente não mudam; e esperamos que nunca evoluam de maneira a que a vontade delas se torne, fruto do que vão experienciando, diferente da nossa, ou que evoluam para pior, sendo que pior é sempre do nosso ponto de vista. O primeiro mais intrínseco e reactivo, o segundo mais pensado e fruto de uma acção mais ou menos ponderada.

É assim que eu tendo a ver as coisas neste momento...
e só assim consigo explicar por que razão me acontece falar duas horas com alguém e que parece ter sido meu amigo de sempre (ou, por outro lado, haver alguém com quem simplesmente não me consigo dar e pronto!) e "perder" meia hora da minha vida a explicar-te o porquê afinal disto não ser um contrasenso tão grande assim:

é que se há coisas más que não mudam, há coisas boas que também não :P
beijinho, Carlos

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