sexta-feira, 19 de junho de 2009

"O bem comum"

Em pequenino ensinaram-me para não fazer aos outros aquilo que eu não gostava que me fizessem a mim. Pensei eu que esta era a melhor forma de guiar as minhas acções, mas hoje em dia não me parece.
Há aqui duas variáveis distintas que precisam de ser explicitadas: a primeira, fazer ou não fazer; a segunda, o que se gosta e o que não se gosta.
Não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam a nós é apenas uma das quatro possibilidades que temos (a saber, e por ordem crescente de bondade) :

1. Fazer aos outros o que não gostamos que nos façam;
2. Não fazer aos outros o que gostamos que nos façam;
3. Não fazer aos outros o que não gostamos que nos façam;
4. Fazer aos outros o que gostamos que nos façam.

Parece-me óbvia a classificação: as atitudes de maior impacto são as mais negativas e as mais positivas, que envolvem a acção. As de impacto menor, pela passividade que sugerem, estarão no meio: sendo que não fazer algo de bom será pior que não fazer algo de mau.
Mas há mesmo assim, factores que influenciam esta linearidade aparente. Pelo menos dois, muito importantes: a intencionalidade da acção (ou da não-acção) e a qualidade dos gostos de cada um. Temos de concordar que se pode fazer (ou deixar de fazer) algo com as melhores das intenções, tendo consequências péssimas para a pessoa a quem queríamos agradar, ou até para terceiros; mais do que isso, pode ser que tenhamos tão mau gosto em relação a algo que ao fazermos a alguém aquilo que gostamos que nos façam sejamos mal recebidos: imaginem alguém que gosta de levar "tau-tau", por exemplo... (foi só para desanuviar um bocadinho, peço desculpa, sim?)
Assumindo que a pessoa tem bom gosto e que os resultados correspondem às intenções, então a pessoa estará em condições de espalhar o dito "bem comum".
É muito fácil pensar nestes termos: basta multiplicar a nossa acção por milhões de pessoas. Se toda a gente reciclasse em sua casa, o que aconteceria? Se toda a gente plantasse uma árvore, o que aconteceria? Se toda a gente desse o braço a torcer, se toda a gente ajudasse um amigo na necessidade, etc... No fundo, é isto: se toda a gente fizesse o mesmo que eu - como seria?
É fácil também imaginar o contrário: se todos tomassem banhos de meia hora, se todos se esquecessem de fechar a torneira da água quando lavam os dentes, se todos olhassem para o lado e assobiassem porque o problema não era deles - o que seria de nós?
É o único sentido em que entendo que mudar o mundo começa por mudarmo-nos. É que melhor que não fazer algo que nos prejudique, é fazer algo para nos melhorarmos.

Sem comentários: