debaixo d'erguida parreira,
Cos olhos num cacho
Das uvas mais belas,
Contando com elas;
Armou-lhes três pulos,
Porém autos nulos,
Que não lhes chegou:
De novo saltou,
Mas teve igual sorte;
Buscando outro norte,
Num ar de desdém,
Torcendo o nariz,
Com gestos de quem
Por más não as quis,
Foi pernas metendo
Com lépido passo,
E disse entendendo,
Qu'as outras a ouviam:
"Estão em agraço,
Nem cães as comiam."
Há muitos humanos
Que seguem tais planos,
Por coisas se empenham
Que sôfregos querem,
E delas desdenham
Se não lhas conferem.
(li uma versão desta fábula em que a parreira das uvas era assolada por uma rajada de vento, e a raposa ainda olhava para trás para ver se ela de facto tinha caído, mostrando continuar interessada nelas; noutra a parreira caía mesmo, mas a raposa não voltou atrás para não dar o braço a torcer e ir comer do que tinha desdenhado antes; noutra ainda, chegou a prová-las, a comê-las e a queixar-se de que de facto, estavam mesmo verdes, quando isso era claramente mentira.
Há muitas raposas por aí, parece-me.)
Sem comentários:
Enviar um comentário