sexta-feira, 28 de março de 2008

A Pessoa Perfeita - Parte 2 - O Sacrifício

Por sacrifício entendo esforço continuado, e portanto também cá está a paciência e a perseverança, entendo sempre como um abdicar de um desejo pessoal ou de uma vontade por algo.
Aplicando algo que aprendi como um conceito económico mas que pode perfeitamente adequar-se à vida, o de custo de oportunidade, sei explicar-vos que esse custo se reporta exactamente ao que perdemos por agir de determinada maneira, em detrimento de outra.
Duma maneira simples, se por exemplo temos hipótese de estudar uma matéria que vale 2 valores no exame ou podemos ir ao cinema com os amigos em vez disso, se formos ao cinema o custo de oportunidade vai ser o de tirar 2 valores a menos, e se estudarmos o custo vai ser o de perdermos um filme, boas conversas e bons momentos.
E se o primeiro é fácil de quantificar, já o segundo - por ser um sentimento, uma retribuição não-monetária nem tangível - é impossível. Quantos valores num exame vale o nosso bem-estar, as nossas amizades e o nosso equilíbrio?
Se na racionalidade económica se opta sempre pelo menor custo de oportunidade, sendo que por isso mesmo se maximiza o emprego dos recursos - neste caso, o tempo - nas relações é mais complicado de gerir até que ponto vale a pena abdicar.
Quantos mal-entendidos, quantos equívocos, quantas oportunidades, quantas reclamações, quanto de quê e como será preciso para que valha mais desistir duma pessoa - e, volto a frisar, não precisa de ser a namorada, pode ser um filho, por exemplo [ler Parte 1] - do que continuar com ela?
Quanto conseguimos nós aguentar ver o que há de positivo nas pessoas e nas relações com elas, ao invés de só nos lembrarmos do que é (ou foi) mau?
Quando é que o custo de oportunidade de deixar a pessoa sozinha é menor do que o de aturá-la, a ela, ao seu feitio sempre difícil, mas também às alegrias, aos mimos, aos momentos bons, àquelas alturas em que voamos de amor ou de orgulho ou de alegria ou de vitórias?

As pessoas que se sacrificam acabam por sofrer mais do que as outras, acabam por tudo ter em dobro: o bom, e o mau. E se ter o dobro em bom as faz mais felizes, ter o dobro em mau fá-las crescer, maturar-se, fá-las ganhar cicatrizes que as relembram do que tentaram.
E nem por isso essas benditas pessoas, que acabam por ganhar forças sabe-se lá de onde, por aturar infernos, doenças, anos, recuperações, acidentes, traições ou azares brutais, perdem, por se sacrificar por quem merece, a vontade de o continuar a fazer.

E ainda bem.

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