quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O elogio fúnebre

De vez em quando há coincidências tão grandes, há situações tão esclarecedoras, há dias que me demonstram tanto que aquilo que fazemos em vida pagamos em vida e que todos mais tarde ou mais cedo vamos ter o que merecemos, que quase me sinto feliz só por acreditar nisto.
Há muito que andava para falar neste assunto, mas fruto das tais coincidências inexplicáveis tinha vindo a adiar sucessivamente.
Não sei se acontece noutros países, mas neste é típico.
Morre alguém que se sabe que toda a gente detesta, mas aparece quase sempre alguém - que quando em vida dizia e acontecia do agora defunto - que vem com falinhas mansas a dizer
"coitado, lá no fundo não era mau tipo..."
Devo dizer, custe o que custar, que há males que vêm por bem. Que demoro muito até não gostar de alguém, mas que depois que não goste, é quase impossível fazer-me mudar de ideias. Que nisso sou radical e admito-o: se morre alguém de quem eu não gosto nada nada - e se calhar aconteceu uma, no máximo duas vezes na minha vida - a mim é coisa que me apraz registar.
Sou gajo para ir ao funeral só para ver se os 7 palmos de terra lhe caem bem em cima e se ele não se levanta no último momento a rir-se e a dizer "enganei-vos, hã?", e para ir beber um copo com os amigos a seguir. Sou gajo para pensar que assim é que ele está bem.
Peço desculpa, mas não consigo ser menos sincero.

1 comentário:

Rosa disse...

Credo! Não gostar de alguém é uma coisa, agora achar que está melhor morto é outra, e está a léguas de distância. Nunca fiquei (e acredito que nunca vou ficar) feliz com a morte de alguém. E isto em nada diminui a minha sinceridade e o facto de, efectivamente, poder não gostar mesmo nada dessa pessoa.